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Rios da Amazônia desafiam autoridades e somaram 142 naufrágios entre 2017 e 2020

Entre 2017 e fevereiro de 2020, 182 pessoas morreram em naufrágios de barco na Amazônia.

Pelo menos 182 pessoas morreram em 142 naufrágios de barcos entre 2017 e início de 2020, nos 16 mil quilômetrosde rios na Amazônia. A conclusão é de um levantamento realizado pelo UOL com informações das seis Capitanias dos Portos que fiscalizam a malha hidroviária da Amazônia.

Além dos naufrágios e mortes, há ainda o problema histórico dos escalpelamentos em pequenas embarcações. Entre 2017 e 2019, foram registrados pela Marinha 13 casos. Na média histórica, 65% dos casos de escalpelamentos envolvem crianças.

Os acidentes ocorrem por conta do eixo da embarcação não ser coberto, em que cabelos longos e não presos enroscam e são violentamente arrancados junto o couro cabeludo.

As viagens na Amazônia ocorrem há séculos por pura necessidade: as áreas mais remotas não têm ligação por estradas. O transporte aéreo, que seria a outra forma, é inacessível à maioria da população, que tenta achar embarcações baratas e perigosas.

Um barco pode navegar por dias e noites por rios amazônicos para chegar ao destino, em uma região sem cobertura por sinal de telefonia ou internet e com pouquíssimo policiamento.
Sem quartos suficientes, a dormida ocorre em redes armadas dentro das embarcações.

Uma viagem entre Manaus e Belém, por exemplo, leva cinco dias, numa das rotas mais visadas por assaltantes, ou os “ratos d’água”, como são conhecidos na Amazônia. O alvo nem sempre são os passageiros, mas muitas vezes são as embarcações de carga.

Segundo o último levantamento da UFPA (Universidade Federal do Pará) e Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), de 2017, são 9,7 milhões de passageiros que transitam de barco, com 3,4 milhões de toneladas de cargas levadas.

Ao todo são mais de 200 terminais hidroviários na região, com cerca de 35 mil embarcações registradas.

Segundo Hito Braga, diretor da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA, os números não devem corresponder a realidade. “São 9 milhões passageiros por ano que a gente sabe por portos oficiais, fora os que a gente não sabe. Acho que é até o dobro disso”, diz.

Braga explica que o transporte de barco é crucial para o desenvolvimento da Amazônia.
“É por ele que a região se retroalimenta, ou seja, faz a troca comercial e leva pessoas de um lado para o outro. Aqui é a única opção que o passageiro tem, porque avião é caro e estradas não existem. Ou vai de barco ou não vai”, completa.

A baixa renda dos moradores da região acaba os levando a buscar viagens mais em conta — e nem sempre seguras.

“Ele não tem condição de pagar uma embarcação sofisticada e mais segura, e muitas vezes vão em embarcações reformadas, de madeira. E para compensar a viagem, o barco acaba levando carga — só passageiro não consegue remunerar. Aí a embarcação leva carga excessiva e compromete a segurança da viagem”, aponta.

O professor ainda explica que os rios da Amazônia têm características diferentes, alguns deles com ondas. “Não são ondas muito grandes, mas acabam sendo problemas para essas embarcações. Às vezes tem um uma corrente mais forte — não que o barco não seja projetado para isso, mas o problema é que são carregadas acima do limite.”

“Outro problema é que o casco não é compartimentado, e quando uma embarcação dessa tomba, a água entra e vai toda para o fundo. É um somatório de fatores”, completa.

Os acidentes em números:

Naufrágios:
2017: 39
2018: 44
2019: 49
2020: 10

Mortos:

2017: 61
2018: 34
2019: 49
2020: 38

Escalpelamentos:
2017: 1
2018: 6
2019: 6
2020: ainda sem dados

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