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Cultura

O barco a vela na história da navegação da Amazônia

Na navegação do Rio Amazonas pode-se usar a vela durante as poucas horas em que o vento geral, o alísio de nordeste, sopra, das dez da manhã até as duas da tarde, daí a grande demora das viagens.

O historiador amazonense Antonio José Loureiro, registrou que a navegação foi o único meio de transporte existente e indispensável à sobrevivência das populações na Amazônia, com suas gigantescas distâncias, difíceis de ser vencidas à vela ou remo. Em 1852, a principal rota comercial da região, ligando Belém a Manaus, subindo a correnteza do Rio Amazonas, era navegada por 45 barcos a vela, que levavam de 60 a 90 dias, para vencerem o trajeto.

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Expedição Smith & Love, 1836. Canoa coberta e índios remeiros, do livro “Narrativa de uma jornada de Lima ao Pará”, de John Murray.

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Expedição Smith & Love, 1836. Canoa coberta e índios remeiros, do livro “Narrativa de uma jornada de Lima ao Pará”, de John Murray.

Na navegação do Rio Amazonas pode-se usar a vela durante as poucas horas em que o vento geral, o alísio de nordeste, sopra, das dez da manhã até as duas da tarde, daí a grande demora das viagens. Na dos seus afluentes, todos perpendiculares ao grande rio, esses ventos alísios só auxiliavam na travessia de uma margem para a outra, sendo todos os percursos feitos a remo ou à sirga – um cabo (corda) utilizado para rebocar barcos em canais ou margens de rios. Por isso, o comércio de distribuição do interior das Províncias do Amazonas e de Mato Grosso possuía mais de 2.000 canoas de diferentes tamanhos.

Este tipo de transporte ainda coexistiu por muito tempo com a navegação a vapor, devido aos altos preços das máquinas, pelas dificuldades de manutenção delas, pela inexistência de pontos de abastecimento de carvão de pedra ou lenha, em locais estratégicos, e pela falta de pessoal habilitado.

De janeiro a setembro de 1852, o tráfego, entre Belém e a Barra estava sendo feito por vinte e oito embarcações, com 228 tripulantes e 659 toneladas, saindo da Barra, e oito embarcações, com 58 tripulantes e 137 toneladas, saindo de Belém, com um movimento de mais de trinta e um contos de mercadorias nacionais e importadas.

Em 1855, três anos depois do estabelecimento da navegação regular a vapor, ainda era grande o tráfego feito por este tipo de barcos, ainda existindo em toda a Província 100 grandes canoas de regatão, totalizando 405 toneladas e 258 tripulantes.
As tripulações haviam diminuído, por existirem navios maiores, mas a tonelagem para o interior crescera, pela abertura dos novos seringais. Além dessas embarcações maiores, ainda existiam, em 1861, mais de 4.000 canoas de trânsito, em toda a Província.

Os fretes cobrados, em 1856, variavam com a mercadoria: 320 réis por arroba de cacau, ou por cada couro ou rede; 420 réis por arroba de breu, jutaicica, sebo, piassaba, pirarucu, peixe boi e puxuri; 500 réis por arroba de café, cumaru, cravo, borracha, grude de peixe, urucu, guaraná, salsa e tabaco; e, 640 réis por pote de óleo, manteiga de tartaruga e mixira, pacote de maqueiras, arroba de estopa e alqueire de castanha.

*Antonio José Loureiro, escritor, médico reumatologista e historiador. Nasceu em Manaus, em 06 de junho de 1940. Formou-se em Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. É autor de Amazônia 10.000 anos, 1972; Síntese da História do Amazonas, 1978; A Gazeta do Purus, 1981; A Grande Crise, 1986; O Amazonas na Época Imperial, 1989; Tempos de Esperança, 1994; Dados para uma História do Grande Oriente do Estado do Amazonas, 1999; História da Medicina e das Doenças no Amazonas, 2004; O Brasil Acreano, 2004; e o Toque de Shofar.

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