A navegação foi o único meio de transporte existente e indispensável à sobrevivência das populações instaladas, na Amazônia, mas bastante limitado, pelas gigantescas distâncias, dificílimas de serem vencidas à vela, remo ou sirga, até o advento do barco a vapor, que aqui teve o mesmo papel das locomotivas e das estradas de ferro, nos Estados Unidos, na anexação do oeste. As informações são do livro ‘História da Navegação na Amazônia’, do historiador Antonio José Souto Loureiro.

PORTO DE ITACOATIARA, EM 1858, DESENHO DE C. MAURAND, DO LIVRO ” TIPOS E UTILIDADES DE VEÍCULOS DE TRANSPORTES FLUVIAIS DO AMAZONAS “, DE MOACIR ANDRADE (2)
Em 1852, a principal rota comercial da região, ligando Belém a Manaus, Rio Amazonas acima, era navegada por quarenta a 50 barcos a vela, que levavam de 60 a 90 dias, para vencerem o trajeto, sendo responsáveis pelo escoamento da produção extrativa e pelas importações dos gêneros e das manufaturas necessárias ao abastecimento das populações dos sítios e das cidades.
O livro diz que na navegação do Rio Amazonas usava-se a vela durante as poucas horas em que o vento geral, o alísio de nordeste sopra, das dez da manhã até as duas da tarde, daí a grande demora das viagens. Na dos seus afluentes, todos perpendiculares ao grande rio, esses ventos alísios só auxiliavam na travessia de uma margem para a outra, sendo os percursos feitos a remo ou à sirga, cabo para rebocar os barcos a partir da margem.
O comércio de distribuição do interior das Províncias do Amazonas e de Mato Grosso possuía, neste trato, mais de 2.000 canoas de diferentes tamanhos, pertencentes aos regatões, ocupados na compra dos produtos da terra, recolhidos às sedes municipais, para remessa à Belém, pois ainda não se instalara a hegemonia econômica de Manaus, sobre as demais localidades amazonenses, todas do mesmo tamanho.
Nas equipagens desses barcos empregavam-se mais de 6.000 pessoas: brancos e mamelucos, nas tarefas mais leves e de comando, índios civilizados e gentios, cafusos, negros e criminosos condenados às penas de galés perpétuas ou temporárias, como remeiros e tripulantes, em um trabalho estafante e insuportável, com frequentes motins e fugas, e uma alimentação baseada no piraém, o pirarucu seco e salgado, e na farinha d`agua, complementada pelo consumo do ipadu, ajudando a controlar a fome e a vencer o cansaço.

CANOAS DE REGATÃO EM FRENTE A PARINTINS, EM 1858, CONFORME DESENHO DE MAURAND (2).
Este tipo de transporte ainda coexistiu por muito tempo com a navegação a vapor, devido aos altos preços das máquinas, pelas dificuldades de manutenção delas, pela inexistência de pontos de abastecimento de carvão de pedra ou lenha, em locais estratégicos, e pela falta de pessoal habilitado.
De janeiro a setembro de 1852, o tráfego, entre Belém e a Barra estava sendo feito por vinte e oito embarcações, com 228 tripulantes e 659 toneladas, saindo da Barra, e oito embarcações, com 58 tripulantes e 137 toneladas, saindo de Belém, com um movimento de mais de trinta e um contos de mercadorias nacionais e importadas.
Em 1855, três anos depois do estabelecimento da navegação regular a vapor, ainda era grande o tráfego feito por este tipo de barcos, ainda existindo em toda a Província 100 grandes canoas de regatão, totalizando 405 toneladas e 258 tripulantes.