A navegação foi o único meio de transporte existente e indispensável à sobrevivência das populações instaladas, na Amazônia, mas bastante limitado, pelas gigantescas distâncias, dificílimas de serem vencidas à vela, remo ou sirga, até o advento do barco a vapor, que aqui teve o mesmo papel das locomotivas e das estradas de ferro, nos Estados Unidos, na anexação do oeste. As informações são do livro ‘História da Navegação na Amazônia’, do historiador Antonio José Souto Loureiro.
Em 1852, a principal rota comercial da região, ligando Belém a Manaus, Rio Amazonas acima, era navegada por quarenta a 50 barcos a vela, que levavam de 60 a 90 dias, para vencerem o trajeto, sendo responsáveis pelo escoamento da produção extrativa e pelas importações dos gêneros e das manufaturas necessárias ao abastecimento das populações dos sítios e das cidades.
O livro diz que na navegação do Rio Amazonas usava-se a vela durante as poucas horas em que o vento geral, o alísio de nordeste sopra, das dez da manhã até as duas da tarde, daí a grande demora das viagens. Na dos seus afluentes, todos perpendiculares ao grande rio, esses ventos alísios só auxiliavam na travessia de uma margem para a outra, sendo os percursos feitos a remo ou à sirga, cabo para rebocar os barcos a partir da margem.
O comércio de distribuição do interior das Províncias do Amazonas e de Mato Grosso possuía, neste trato, mais de 2.000 canoas de diferentes tamanhos, pertencentes aos regatões, ocupados na compra dos produtos da terra, recolhidos às sedes municipais, para remessa à Belém, pois ainda não se instalara a hegemonia econômica de Manaus, sobre as demais localidades amazonenses, todas do mesmo tamanho.
Nas equipagens desses barcos empregavam-se mais de 6.000 pessoas: brancos e mamelucos, nas tarefas mais leves e de comando, índios civilizados e gentios, cafusos, negros e criminosos condenados às penas de galés perpétuas ou temporárias, como remeiros e tripulantes, em um trabalho estafante e insuportável, com frequentes motins e fugas, e uma alimentação baseada no piraém, o pirarucu seco e salgado, e na farinha d`agua, complementada pelo consumo do ipadu, ajudando a controlar a fome e a vencer o cansaço.
Este tipo de transporte ainda coexistiu por muito tempo com a navegação a vapor, devido aos altos preços das máquinas, pelas dificuldades de manutenção delas, pela inexistência de pontos de abastecimento de carvão de pedra ou lenha, em locais estratégicos, e pela falta de pessoal habilitado.
De janeiro a setembro de 1852, o tráfego, entre Belém e a Barra estava sendo feito por vinte e oito embarcações, com 228 tripulantes e 659 toneladas, saindo da Barra, e oito embarcações, com 58 tripulantes e 137 toneladas, saindo de Belém, com um movimento de mais de trinta e um contos de mercadorias nacionais e importadas.
Em 1855, três anos depois do estabelecimento da navegação regular a vapor, ainda era grande o tráfego feito por este tipo de barcos, ainda existindo em toda a Província 100 grandes canoas de regatão, totalizando 405 toneladas e 258 tripulantes.